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PubCoffee, onde eu trabalhava era o lugar o qual ele mais freqüentava.
- Bom dia, querida! Quero o de sempre...
Era a única coisa que ele falava. Mas sem mesmo o uso das palavras ele conseguia me convencer de que estava ali por mim. Para mim. Mas, eu não posso!
Seu olhar para o meu avental. Sua insensata mania de olhar minha boca o condenava.
E assim foi durante 1 ano e pouco. Mais precisamente 1 ano e 5 meses.
E na minha cabeça um martelo, sempre me precavendo do perigo. Eu não podia, nem ele.
- Não quer parar de frequentar esse lugar? Você sabe que será impossível!
E a única coisa que eu recebia dele era aquele olhar dizendo “não”.
Tudo bem. Ele não queria mudar de pub, eu resolvi mudar. Procurei outro emprego e dentro de duas semanas lá estava eu. Trabalhando naquele café. Era um lugar bem xucro, mas acho que a minha vontade de trabalhar numa Starbucks que provocava isso.
No início foi difícil sem a sua presença por ali. Constantemente. Mas acostumei. Precisei pouco mais de um mês.
Pudera eu imaginar que dentro de 2 meses ele estaria ali, novamente. Surpreendentemente lindo ele apareceu na porta.
No primeiro dia, o de sempre. Mas percebeu que o prato não tinha o mesmo gosto de antes. Passou a pedir apenas uma xícara de café. Sem açúcar, ele sempre frisava. Que amargura, não?
Os dias foram se passando e a minha vontade de cair naquela tentação só aumentava. Eu sentia seu cheiro de longe. Isso, em casa mesmo. Eu sentia seu gosto. Eu sentia o mesmo desejo. O seu desejo.
Até que naquele dia ele passou dos limites. Não se conteve no seu platonismo. Muito menos eu na minha meticulosidade.
- Não agüento mais! Te pego hoje depois do trabalho. Deixo-a em casa depois, prometo. Diga que sim, é a única coisa que quero ouvir de você há tempos.
- Tenho outra opção? – perguntei e sorri.
Meu sangue estava queimando por dentro de vontade. Meu coração pulava, forte. Alto. Ele mesmo dizia para eu aceitar. Tá, eu concordei. O coração é quem manda.
- Não, você não tem outra opção – ele disse.
Antes de sair deu aquele sorriso que sempre me desmontava. Ainda consegui mostrar um sorriso contente e angustiante ao mesmo tempo.
Os minutos passaram como horas.
Enfim, avistei seu carro, caminhei até ele, disfarçadamente, e entrei. Vidros escuros e um som bacana. Só percebi que chegamos quando ele diminuiu a velocidade. Parou, abaixou o vidro do carro e pediu um quarto.
Foi tudo muito estranho. Gostoso, mas eu sentia medo. Inesquecível, mas eu num queria nem pensar nas conseqüências. Os minutos ali passaram de forma deliciosa. Foi tudo tão perfeito, tão magnífico. E eu estava deliberadamente apaixonada. Entregue. Ele conseguiu me completar. Infelizmente. Já não sei mais o que pensar. Já não sei mais entender o proibido. Não sabia mais se me sentia feliz ou desesperada.
Foi pouco tempo, mas suficiente para eu perceber que nem sempre o coração é quem manda. E que o arrependimento é a dor mais avassaladora que eu já senti. E se ela ficar sabendo, eu só espero que me perdoe, porque amizade como a dela eu jamais encontrarei. Embora momento como aquele eu jamais terei.
(ana lívia)