Eu queria ter a inspiração que eu tinha aos meus 18 anos. Postava num fotolog. Depois, numa página chamada Orkut. Raro alguém que não tinha. Posteriormente, passei para um blog. Aparentemente atrativo. Era bem legal. Perdia horas e horas lendo textos. Mas para construir o meu, gastava pouco.
Queria ter a felicidade de quando tinha 5 anos, 7 anos também, quando ganhei minha primeira bicicleta. E alguns arranhões, claro.
Aquela disposição quando ia para o trabalho era algo que me preenchia. Dia a dia. Noite a noite. Adorava trabalhar com o clarão da lua. Sim, escritora era um hobbie. Trabalho mesmo era quebrar a cabeça com o que houve de errado no dia. A empresa era enorme. Os funcionários eram muitos. Gastava-me muito. Me sentia gastada. Estou gastada. Mas confesso, ali era minha segunda casa.
Mas o que eu queria ter mesmo eram os amores dos 20 anos. Dos 30 também. Ahh, como era maravilhoso! Um sorvete tornava o melhor programa da semana. E um cinema quando ele não podia era entediante.
Passeios com os filhos era o que eu mais gostava. Aquele passeio nas pracinhas, no quarteirão empurrando o carrinho de bebê. Aquele outro passeio do tipo parque de diversão. Eles cresciam como uma sementinha de girassol. Daquelas que procuram o sol e se viram para ele. Tinham um brilho incomparável. Admirável. Sim, sou suspeita porque vieram de mim. Aquele passeio depois de suas faculdades. Aah! O fato de eu caber nos seus programas era ótimo. Me completava. Eu me sentia tão jovem. Tão “na moda”. No estilo. Cada estilo, viu?
Saudade eu tenho das viagens feitas com eles para o litoral, para o interior. Para um passeio qualquer numa fazenda alheia. Hum, aqueles passeios! E ainda tinha os netos. Umas belezuras. Bastavam sorrir e eu me derretia.
Chá da tarde com as amigas. Isso já aos 50. O que mais gostávamos era de ouvir os passarinhos, o vento cantando com as folhas das árvores. No jardim de alguma de nós. Quando era na minha casa, ficávamos perto do balanço que tinha perto da mangueira. Elas adoravam levar algumas mangas para os netos. Me arrisco a dizer que algumas tinham bisnetos. Não me lembro.
E parece que tudo não passou de um sonho. Pessoas importantes sempre a disposição quando se tinha uma pele lisinha. Pessoas que “diziam” me achar importante.
Pessoas magníficas ao meu lado quando eu podia providenciar um churrasquinho. Por minha conta mesmo. Fazia questão apenas da presença de cada. Ah, era tão bom!
O que me resta são as lembranças. Os papos com a Dona Maria. Ta bom, não temos uma diferença tão grande de idade. Reformulando. Os papos com a Maria é o que mais me contenta durante nosso banho de sol.
Uma pena o chazinho não ser mais como antes. A sombra da mangueira não me fazer mais companhia. Nem ao menos um passeio. Incomunicável com o mundo lá fora. Velho mundo.
Mas o que eu mais gostaria de ter por perto eram eles. Tão importantes. Tão presentes sempre. Por que será que isso aconteceu? Me disseram que foi por vontade deles. Mas acredito que não. Sempre fiz de tudo ué. Não, não. Isso não. Jamais.
E o que eu mais gostaria de contar-lhes é que eu estou aqui. Feliz, mas poderia estar mais. Aqui todos me tratam bem, mas eu gostaria de amor fraternal. E espero que um dia eles recebam esse comunicado. Eu sinto saudades, na verdade, deles, meus filhos.
Preciso parar por aqui. Horário do banho. Aqui é tudo tão organizado. E ainda me diziam que asilo era coisa de louco.
(ana lívia)
(ana lívia)
Você escreve muito bem, o seu blog é muito bom!
ResponderExcluirVoltarei mais vezes.
Nossa que triste! Texto saudoso e gostoso de ler...nunca faria isso com um ente querido meu. Acho desumano, frio e ingrato.
ResponderExcluirComo sempre, perfeito teu texto. Transmitiu a mensagem.
beijOs
Tua fã.
'Glenda Barros
Toda vez que leio um texto teu me sinto noutro plano, em uma especie de transe! Por mais forte e intenso que seja o tema você consegue confraternizar as palavras de uma forma que as torna doces e suaves. Parabéns! :)
ResponderExcluirDiego Alencar
Que leitura ótima, a mensagem que transmite sutil faz- nos ter empatia para esta situação, realmente nos sentir na situação. Muito bom!
ResponderExcluirMuito bom, muito bom mesmo!
ResponderExcluirPrende o começo ao fim.
Parabéns de novo (:
Hahaha
Beijão :*
Acho incrivel a capacidade que vc tem de se tornar aquilo que vc quer escrever =0
ResponderExcluirbjOss =)
Só elogios, neh?
ResponderExcluirTambém, não é pra menos kkk
Outro texto simples e formidável. Eu constantemente me imagino velho (de corpo, pq a alma como dizem já sou um ancião kkkkkk)e tento adivinhar onde eu vou possivelmente estar.
Em casa, na praça dando comida para os pombos (puta merda, tudo menos isso -.-' ), com uma velha na cadeira de balanço na sacada da minha futura e imaginável casa, e por aí vai.
Percebe? A gente nunca se imagina em uma situação dessa, mesmo sendo o que mais ocorre hoje em dia. Pra falar a verdade, é até melhor não imaginarmos, nos assustamos menos dessa forma.
Beijão
Oi, Lívia...
ResponderExcluirinteressante como você vê e fala da questão da inspiração.
Muuito bom o seu blog, suas idéias e seu bom gosto.
Estou te seguindo.
Beijos no coração,
EDU (http://edurjedu.blogspot.com)
Amei, amei! :)
ResponderExcluirAs fases da vida, como o tempo passa rápido, não é?
Ah, e o descaso dos filhos e outros familiares que eram tratados tão bem. Quanta ingratidão!
Nooooooooooooooooossa *__*
ResponderExcluirSério, to me apaixonando toda vez que leio algo aqui. Sempre vejo os blogs por ai, mas esse aqui tem um toque a mais. Como na comida, que o tempero faz a comida ficar mais gostosa. Só não sei que tipo de tempero tu usa, mas que fica bom... aaaaaaah isso fica.
Obrigado por escreveres coisas tão significativas =D
bjaum!
www.suportedamente.blogspot.com
ei ana!!
ResponderExcluirgostei do texto.. atemporal; uma realidade triste, mas que acontece, e que, muito bem, pode estar a nossa espera :/
penso muito sobre isso, sobre as lembranças, fotografias e escritos. cheiros e gostos..
bjs
Sinceramente eu ficaria puto se vc deletar o blog, acho que vc está se cobrando demais, tenho que escrever assim e assado, deixe fluir, se tiver que ficar um mes sem escrever fique, mas escreva com a alma depois não por obrigação. Quanto a inspiração, não teria o nome de inspiração se viesse quando vc quer, deixa rolar. Vc sabe que tem um talento visível, mas não pode tentar forçar a barra.
ResponderExcluirNossa, muito bom.
ResponderExcluirVocê escreve muito bem! Voltarei mais vezes ;D
muito bom
ResponderExcluir