Começou fazendo uma analogia da sua vida com a atividade de escalar uma montanha. Uma montanha bastante íngreme, mas com uma sensação bastante satisfatória ao chegar no topo.
Percebeu que houve uma época da vida em que tudo se mostrava bastante tendencioso a te levar para o fracasso, para baixo, literalmente. Era como se a gravidade a puxasse enquanto tentava driblar algumas árvores e alguns rochedos. Mas ela não se sentia desamparada, as consequências da vida a forçava a querer mais, a subir mais, a se amar mais.
Sem muitas delongas, ela chegou ao topo. Conquistou não só as alturas, mas alcançou a sensação de ser mais feliz. A liberdade de sentir a briza batendo em seu rosto, refrescando-a, deixando-a com a sensação de que o seu dever estava sendo cumprido proporcionava essa sensação de felicidade.
Mas não podia parar por ali. Ela sabia que não! Deveria procurar forças; sim, físicas, para desafiar uma montanha ainda mais alta. Uma montanha que ela não esperava encontrar tão cedo. Tentou fechar os olhos. E conseguiu! Mas a lembrança de que um obstáculo se prontificava à sua frente não lhe falhava a memória. Era como se olhasse para uma luz forte e tentasse fechar os olhos para não mais ver. Sentia aquela sensação horrorosa de que não era fechando os olhos que as coisas resolveriam. Ela precisava se desviar para algo que não ofuscasse tanto seu olhar. Entristecido olhar, já.
E foi aí que ela resolveu parar de escrever. Viu que para alcançar o topo de qualquer outra montanha, ela precisava primeiro descer. E descia. Era como se despencasse de um penhasco. Não era uma descida prazerosa, com direito a apreciar os arredores. Fechou os olhos, deixou com que as coisas se resolvessem por si só, sem qualquer influência sua. Fechou os olhos, já cheios de lágrimas.
Fechou os olhos até que adormeceu.
E permanecia dentro do seu quarto. E permanecia debruçada em seu papel escrito pela metade.
E, novamente, sem muitas delongas, ela chegou ao topo! Mas agora, em seus sonhos.
(ana lívia)